Dois movimentos anunciados em junho pelo Spotify geraram burburinho no mercado, poucas semanas depois de a maior plataforma do mundo divulgar mais um excelente balanço trimestral — que se segue ao melhor ano (2022) da sua história. A gigante sueca revelou planos para demitir 200 pessoas (2% da sua força de trabalho global) especificamente do seu departamento de podcasts. E comunicou a venda da ferramenta Soundtrap, que permite a compositores e produtores fazer parcerias à distância.
Ambos os movimentos foram entendidos por analistas como uma estratégia clara de redução de custos para focar no crescimento da base de assinantes globalmente — principalmente em mercados emergentes —, chave para conquistar o sonhado lucro operacional, algo ainda distante para todas as empresas que trabalham exclusivamente com streaming musical.
Enquanto isso, o Spotify vem batendo recordes sucessivos, como mostram seus mais recentes relatórios trimestrais. Em 2022, a plataforma teve seu melhor ano, alcançando 205 milhões de assinantes premium. A boa fase continuou no primeiro trimestre deste ano, quando mais 5 milhões de assinantes premium foram adicionados à base da plataforma globalmente.
leia mais
No site da UBC, confira todos os bons números do Spotify
A Cisac divulgou em maio, em Paris, seu Relatório Anual 2023, que mostrou uma arrecadação total de direitos autorais de € 9,6 bilhões ano passado, alta de 3% em relação aos € 9,32 bilhões de 2021. Em seu documento, a Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores ainda prestou contas sobre o novo planejamento estratégico que começou a gestar desde o ano 2020, em conjunto com mais de 140 entidades arrecadadoras de direitos autorais de dezenas de países. Os desafios da era digital — como a correta identificação das obras executadas e a pressão das big techs para pagar menos direitos autorais, entre muitos outros — estiveram no centro dos debates, mas não foram o único tema.
Apareceu também no novo planejamento da Cisac a abordagem adequada das sociedades de autores à crescente imposição, no mundo das trilhas sonoras, de contratos do tipo buy-out, aqueles em que os criadores de trilhas sonoras são forçados a renunciar aos seus direitos futuros. Outro tema discutido foi a desigualdade entre sociedades grandes e pequenas, que leva estas últimas a não terem tantas forças para lutar localmente pelos direitos dos seus associados. Alguns desses assuntos surgiram também na Assembleia Geral da entidade, realizada em junho no México — e da qual participou nosso diretor-executivo, Marcelo Castello Branco (na foto), também presidente do Conselho de Administração da Cisac.
leia mais
Confira o que aconteceu na Assembleia, em reportagem no site da UBC
Numa mesma semana, em abril, diferentes países, a União Europeia e a maior gravadora do mundo deram passos para tentar proteger conteúdos sujeitos a direitos autorais que empresas como a OpenAI, criadora do ChatGPT, estariam varrendo livremente na internet ao criar seus chats de inteligência artificial. Três nações da União Europeia – Espanha, França e Itália – abriram investigações contra a OpenAI, companhia sediada na Califórnia, nos Estados Unidos. Além de apurar se houve uso maciço de conteúdos protegidos nos bancos de dados do chat (especialistas dizem que sim), Madri, Paris e Roma querem saber se dados pessoais de milhões de cidadãos foram garimpados ilegalmente na elaboração dos sistemas.
Já o Universal Music Group, maior conglomerado de música gravada do planeta, advertiu ao Spotify e à Apple Music que devem bloquear o acesso de ferramentas de inteligência artificial ao seu catálogo publicado nessas plataformas de streaming. A Universal enviou uma carta aos apps advertindo: "Não hesitaremos em tomar medidas para proteger nossos direitos e os dos nossos artistas."
leia mais
Todos os detalhes em reportagem do site da UBC
Os desafios — e as oportunidades — da inteligência artificial para a criação estiveram no foco em “Inteligência Artificial e Cultura — Do Medo à Descoberta”, uma conferência internacional promovida pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) em maio, em Lisboa. Acadêmicos, autores musicais e outras partes interessadas falaram sobre o tema a partir de perspectivas variadíssimas. De todas, porém, sobressaiu um consenso: o avanço da IA parece irreversível, mas essa tecnologia jamais poderá substituir inteiramente o componente humano na hora de criar arte e transmitir emoções.
Esta é, sem dúvida, a opinião de um dos principais nomes presentes ao evento, o filósofo e ensaísta espanhol Daniel Innerarity (na foto) — chamado de "um dos 25 pensadores mais influentes do mundo" pela revista francesa Le Nouvel Observateur. Ele apresentou o painel "El Sueño de la Máquina Creativa", no qual chamou a atenção para a fascinação coletiva que a ideia de robôs criando arte desperta.
Além de Innerarity, participaram nomes como a advogada especialista em direitos autorais Patricia Akester — PhD em direito de autor e os desafios da tecnologia digital —, o físico e ensaísta Carlos Fiolhais, o cantor e compositor Pedro Abrunhosa e a editora de ciência do diário Público, Teresa Firmino.
leia mais
Em vídeo, acompanhe os debates na íntegra
O último 25 de abril, dia em que se celebraram os 49 anos da Revolução dos Cravos — a revolta pacífica que pôs fim à ditadura portuguesa —, foi especial para Chico Buarque, autor da mais célebre canção brasileira sobre aquele evento histórico, “Tanto Mar”. Quatro anos depois do seu anúncio como vencedor do Prêmio Camões, principal honraria literária do mundo lusófono, ele pôde finalmente ter uma cerimônia de entrega no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra.
A demora se deveu à recusa do ex-presidente Jair Bolsonaro em assinar o diploma de premiação, condição obrigatória para a realização da festa — mas não para a entrega do cheque de € 100 mil (R$ 525 mil), que já está com Chico. Quem acabou deixando sua assinatura pelo lado brasileiro foi o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da cerimônia em Sintra junto do presidente e signatário português, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro luso, António Costa, dos ministros da Cultura dos dois países, Margareth Menezes (Brasil) e Pedro Adão e Silva (Portugal), e do presidente do júri do prêmio, o escritor português Manuel Frias Martins.
leia mais
Veja como foi a cerimônia