por_Chris Fuscaldo • do_Rio
Renno Saraiva Macedo e Silva virou Renno Poeta por causa da facilidade que tinha para escrever músicas. O que, lá atrás, nem ele esperava é que, de pianista de jazz, viraria acordeonista de forró. E o que ninguém de nenhum desses nichos imagina é que sua faceta jazzista o tornou um dos maiores autores de gêneros e estilos como sertanejo, piseiro, sofrência etc.
O cantor e multi-instrumentista cearense de 41 anos já tem mais de 600 composições gravadas por nomes como Wesley Safadão, Marília Mendonça e Gusttavo Lima em cerca de sete anos atuando neste segmento. Em 2020, Renno chegou a ficar empatado em terceiro lugar com Douglas Cezar em um ranking com os 10 maiores compositores nacionais, atrás apenas de Luan Santana e Juliano Tchula.
Dividindo sua semana entre a composição – de segunda a quinta-feira – e os shows com sua banda de forró – de sexta a domingo –, ele faz tudo isso presencialmente.
E, claro, está feliz e cansado.
O que o inseriu no mercado? E qual papel você mais gosta de exercer?
Comecei tocando teclado aos 8 anos em pizzarias, bares, pianos-bares. Me formei em piano pela Universidade Estadual do Ceará e fui professor de música. Com o piano, viajei o Brasil todo fazendo shows de jazz. Depois dessa fase do jazz e da bossa nova, aos 20 anos, conheci o acordeão e passei a carregá-lo comigo. Através da sanfona, toquei com Fagner, dividi palco com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo e gravei com Dominguinhos. Tive uma dupla chamada Ítalo e Renno, que levou música nordestina pelo Brasil por 14 anos e, paralelamente, comecei a compor e mostrar as músicas a artistas. Hoje, divido meu tempo entre tocar e compor. Se perguntar do que gosto mais, digo que dos dois. Mas fazer os dois é também bastante cansativo. Brevemente vou ter que tirar o pé do acelerador.
Em sete anos criando para grandes nomes, você já tem mais de 600 composições gravadas. Como descobriu esse seu potencial e essa velocidade?
AS PESSOAS QUEREM RETORNO IMEDIATO, MAS NA MÚSICA ISSO NÃO EXISTE. EXISTE PERSEVERANÇA, CAMISA SUADA.”
O jazz me abriu muitas portas, e isso influenciou muito na composição porque me trouxe linhas melódicas com as quais, usualmente, as pessoas não têm contato. A maioria dos meus solos e introduções – que são as coisas mais marcantes da música – vêm daí e acabam tendo a minha cara. Quando você acerta a primeira, ela abre a porta, e você é meio que forçado a continuar. Claro que há a opção de viver daquele único hit, porque o segundo é sempre o maior desafio. Graças à minha persistência e à de meus parceiros, fomos acertando uma música atrás da outra. Tinha o sonho de acertar um hit, e fui acertando vários.
E quais foram seus primeiros sucessos?
“O Que Houve”, do Mano Walter com feat da Marília Mendonça, teve repercussão nacional, com mais de 400 milhões de visualizações no YouTube, mas o divisor de águas foi “Ar-Condicionado no 15”, do Wesley Safadão. Essa bateu todos os recordes, inclusive de execução: ficou três meses em primeiro lugar nas rádios. Outros sucessos que vieram na sequência foram “Esqueça-me Se For Capaz”, “Sem Sal” e “Todo Mundo Vai Sofrer”, da Marília Mendonça; “Na Conta da Loucura “, do Bruno & Marrone; “Se For Amor”, de João Gomes, com participação de Vitor Fernandes. “Quem Pegou, Pegou“, do Henrique & Juliano, também foi um marco muito grande, porque acho que foi uma das canções que mais tiveram execução no YouTube dentro das primeiras 24 horas de lançamento, batendo 8 milhões de visualizações.
Você consegue definir o estilo da música que faz?
Gravei muito com os sertanejos e com a turma do piseiro. João Gomes, Mano Valter, Matheus Fernandes... Mas eu sou forró. Sou sanfoneiro.
Sua história é mais uma prova de que, para se manter no mercado da música, é preciso estudar, certo?
Eu falo isso para todo mundo! Quando estou dando aula, palestra, eu digo: “Meu objetivo é que vocês desistam de ser compositores. Se eu conseguir, vou estar fazendo um bem para mim e para vocês. Os que não desistirem devem estar cientes de que o jogo é pesado." Trabalhar com música em todos os âmbitos – show, composição – não é esporte, não é firula. As pessoas encaram música como se não fosse um trabalho. Eu, que vivo exclusivamente de música desde os 12 anos, sei o peso e os benefícios. Os benefícios vêm muito depois. As pessoas querem velocidade, retorno imediato, mas na música isso não existe. Existe perseverança, camisa suada. •