por_ Aline Alves • de_ Fortaleza
Ela acabou de completar 22 anos de idade. Não chegou ainda a 2 de carreira profissional. E já é top 5 entre os brasileiros do Spotify, com mais de 11 milhões de audições mensais; acumula 1 bilhão de visualizações dos seus vídeos no YouTube e mais de 5 milhões de seguidores no Instagram, além de 2 milhões no TikTok. Foram os vídeos nesta plataforma chinesa favorita das gerações Z e Alfa, aliás, o ponto inicial de uma assombrosa trajetória ascendente, que faz prever um daqueles fenômenos que acontecem de vez em quando na música brasileira — algo assim como ocorreu, uns anos atrás, com Marilia Mendonça.
A protagonista desta história, porém, é outra. É a cearense Mari Fernandez.
Mari no palco: carisma e potência vocal
Nascida na pequena Alto Santo e radicada em Fortaleza, a cantora e compositora milita nesse crossover de estilos que é a fronteira cada vez menos clara entre forró, piseiro e sertanejo. O caráter sempre dançante das suas canções, mesmo quando a letra reflete a sofrência que caiu nas graças do povo brasileiro, a tornou sucesso também em festas e nos shows ao vivo que tem feito por todo o país em ritmo vertiginoso — seja em estádios lotados de cidades como Natal, Teresina e Manaus, seja no último São João de Campina Grande (PB), quando reuniu 120 mil pessoas na plateia.
Nas rádios, 11 canções suas — grande parte delas do seu disco de estreia, “Quanto Tem Sentimento”, de 2022 — vêm se revezando entre as mais tocadas.
Tenho sonhos pessoais bastante grandes. Fora os meus sonhos como artista; não realizei nem a metade.”
Como um Tolstói do mainstream musical nacional, ela crê que vai ser pintando a própria aldeia — ou seja, apegada às suas raízes musicais — que se tornará universal. A dificuldade de penetração do sertanejo, do forró e de outros sons “muito brasileiros” Mari Fernandez quer quebrar.
“Quero ir devagarinho, de degrau em degrau. Se Deus quiser, e a galera continuar a abraçar, sonho em ser gigante: fazer participações internacionais, ir para o mundo”, projeta.
Por ora, como ela diz, a galera a vem abraçando. Com frequência, seus novos lançamentos se tornam hits uma ou duas semanas depois de ganhar o streaming. E derivam em mais shows, mais viagens... Uma turnê sem fim que não lhe tem permitido parar, pegar o violão e sentar-se para compor com calma. O que não a impede de ir acumulando novas criações.
Seu próximo álbum de estúdio poderia ter uma pegada ainda mais autoral. Mas antes dele virá um novo audiovisual e, já agora em março, um rápido tour internacional, com apresentações em três cidades dos Estados Unidos onde a comunidade brasileira é numerosa: Newark (Nova Jérsei), Danbury (Connecticut) e Boston. Para o segundo semestre, poderiam vir mais viagens internacionais. Como em tudo o que se refere à sua carreira, os caminhos de Mari Fernandez parecem estar abertos.
“Independentemente de estar com um instrumento, eu pego o celular e já começo a criar a melodia e a letra na cabeça. E rapidinho escrevo a música ali, com o que estou sentindo na hora”, conta a artista sobre seu modo de criar.
A primeira composição, lembra, nasceu quando ela tinha 15 anos: “O nome é 'Louco Desejo', uma música que meus fãs já pediram para eu gravar. Mas, para gravá-la, eu teria que melhorá-la um pouco, afinal de contas é um pouco antiga, foi minha primeira.”
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Esse toque de Midas que ela parece imprimir a tudo o que faz e lança a tem tornado uma das artistas mais procuradas para parcerias. Do DVD gravado ao vivo em Fortaleza e lançado há alguns meses participam nomes como Xand Avião, Simone e Simaria, Nattan e Zé Vaqueiro. Lançado no streaming, foi por semanas o audiovisual mais acessado na Deezer Brasil. Mais recentemente, ela fez parcerias com nomes estourados do funk, como MC Ryan e MC Daniel. Misturar — gêneros, sons, pessoas — está na essência do que Mari e sua geração fazem:
O forró é hoje um dos ritmos que despontaram, em todos os rankings. Está ultrapassando barreiras e quebrando tabus.”
“O nosso Brasil é cheio de cultura e muitos ritmos, muita essência na música. O funk tem sua história, seu ritmo, sua história. O sertanejo, da mesma maneira... E o forró também, né? Traz a história, a cultura do Nordeste, desde a época de Luiz Gonzaga. Graças a Deus, o forró é hoje um dos ritmos do Brasil que despontaram em todas as plataformas, em todos os rankings. Está ultrapassando barreiras e quebrando tabus, em todos os lugares. O forró e o piseiro vêm conquistando muita coisa.”
Mari Fernandez vem conquistando muita coisa. Como tantos jovens que atingem o estrelato tão rápido, ainda tenta assimilar a exposição que ganhou. E faz planos de curto prazo que dizem muito sobre sua origem humilde e o que representa para ela poder viver da sua arte, ainda por cima com grande sucesso.
“Ainda sonho em conquistar muitas coisas, muitas mesmo. Tenho sonhos pessoais bastante grandes: conseguir levar minha família para conhecer o mundo, fazer viagens. Eu mesma (quero) conhecer... Viajei pouco ainda. Tenho o sonho de dar uma casa para a minha mãe, dar um carro melhor para ela. Fora os meus sonhos como artista; não realizei nem metade.”
E como manter a cabeça no lugar em meio a esse turbilhão em que foi metida, tendo tão pouca idade?
“Idade não define nada, mas manter a cabeça no lugar, pelas coisas acontecerem tão rápido, só com fé em Deus, pedindo que Ele me abençoe e sempre me guie pelos melhores caminhos... Que eu nunca perca minha essência e minhas virtudes”, ela diz, antes de completar, aos risos: “Isso e terapia também, né? Porque ajuda, e muito!” •