Scroll

Um ano de

8 DÉCADAS

Noite para Alceu numa Casa UBC reaberta ao público coroa aniversário da nossa associação, marcado ainda por entrevistas estreladas, jam sessions, lançamento de livro e homenagem a Dona Onete do_ Rio
Jota.pê
foto_ Julia Assis
O cantor e compositor Jota.pê, durante uma Jam na Casa UBC, no Rio

Noite para Alceu numa Casa UBC reaberta ao público coroa aniversário da nossa associação, marcado ainda por entrevistas estreladas, jam sessions, lançamento de livro e homenagem a Dona Onete

• do_ Rio

Festa que se preze dura bastante. A de 80 anos da UBC se estendeu por quase todo 2022. Para celebrar o legado de grandes criadores do passado que ajudaram a construir a maior sociedade de gestão coletiva musical do Brasil, nossa associação deu voz a talentos do presente e promoveu muita discussão sobre o futuro. Noites de música em Belém, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador e no Rio, entrevistas online protagonizadas por grandes compositores e discussões aprofundadas sobre os desafios do mercado marcaram os últimos meses. E dezembro tem o lançamento de um livro sobre direito autoral.

Em novembro, a noite de entrega do Prêmio UBC a Alceu Valença pelo conjunto da sua obra, pela primeira vez com público na Casa UBC desde o início da pandemia, teve shows de Ney Matogrosso, Duda Beat, Silva e Almério, entre tantos outros (leia a crônica da noite mais abaixo). Meses antes, em maio, a reabertura do espaço que é um ponto de encontro e palco para a música no centro histórico do Rio, deu início a uma série de três jam sessions protagonizadas por novos talentos de todo o Brasil. Em setembro, houve uma edição especial só com mulheres, numa busca por representatividade que guia as ações da UBC e não passou batida entre as participantes:

Alceu Valença
foto_Miguel Sá
Alceu canta durante a entrega do Prêmio UBC 2022 em sua homenagem

“A sociedade evolui, o artista evolui, e a UBC também”, resumiu a carioca Taís Feijão. “Uma experiência única. Não só por levar o rap do Norte para a UBC, mas por ser uma mulher preta, jovem e com toda a representatividade que eu carrego ali, naquele palco”, completou a paraense Nic Dias.

No estado dela, em junho, a entrega do Troféu Tradições UBC 2022 para Dona Onete fez tremer o Theatro da Paz de Belém. A rainha do carimbó chamegado recebeu o carinho de grandes artistas conterrâneos, na maior festa para o gênero já realizada naquela suntuosa casa de ópera amazônica.

AspasNÃO SABERIA DEFINIR EM PALAVRAS O QUÃO HONRADO ESTOU EM FAZER PARTE DESSA CELEBRAÇÃO DOS 80 ANOS DA UBC. ESTAMOS FALANDO DE 80 ENCONTROS COM SERES HUMANOS INCRÍVEIS E DIVERSOS.”

Clemente Magalhães, do podcast Papo Com Clê

"Já não somos só folclore. Chegou a hora do brega, do carimbó, da guitarrada, do que é nosso ser valorizado. Ninguém mais vai segurar o Pará", ela disse naquela noite, agradecendo a homenagem.

Em Salvador, setembro foi marcado por uma jam session cheia de energia, que reuniu três grandes artistas independentes: Cacá Magalhães, Vitin Gabriel e Thathi. “Obrigada, UBC, por esse evento tão especial e necessário para nós artistas baianos. Noite linda!”, disse esta última.

Jota.pê
foto_ Julia Assis
O cantor e compositor Jota.pê, durante uma Jam na Casa UBC, no Rio

Em outubro, foi a vez de Belo Horizonte receber a noite de encontros musicais, com as participações de Chico Amaral, Magno Alexandre, Amaranto, Coral, Paige e MC Vitin da Igrejinha. Por fim, Goiânia sediou a última jam do ano, no final de novembro, com a participação de Ney Quinonero, Luiz Alves, Danni Guerra, Sardinha, Maíra Lemos, Fabiana Oliveira, Barto & Regim, Rigamontti e Dayanna Dias. As próximas serão em Fortaleza e São Paulo, já em 2023.

Holofotes sobre nossos associados também na rede. Numa parceria com o Podcast Papo Com Clê/Canal Corredor 5, do produtor musical e criador de conteúdo Clemente Magalhães, promovemos 80 entrevistas exclusivas com profissionais do mercado musical – de compositores a produtores, analistas, profissionais de produção, gravação, distribuição...

“Não saberia definir em palavras o quão honrado estou em fazer parte dessa celebração dos 80 anos da UBC. Estamos falando de 80 encontros com seres humanos incríveis e diversos”, disse Magalhães, que recebeu, entre muitos outros, Ana Cañas, Fernanda Takai, Charles Gavin, Roberta Campos, além de Leo Feijó (jornalista e produtor cultural), Marcel Klemm (curador musical e atual diretor geral da editora Warner Chappell Brasil) e diversos especialistas da própria UBC. Eles falaram sobre criação, tendências do mercado, direitos autorais, gestão coletiva e muito mais. No canal do YouTube do Clê você pode rever esses papos.

AspasJÁ NÃO SOMOS SÓ FOLCLORE. CHEGOU A HORA DO BREGA, DO CARIMBÓ, DA GUITARRADA, DO QUE É NOSSO SER VALORIZADO. NINGUÉM MAIS VAI SEGURAR O PARÁ.”

Dona Onete
Alceu Valença
foto_Miguel Sá
Alceu canta durante a entrega do Prêmio UBC 2022 em sua homenagem

AspasNÃO SABERIA DEFINIR EM PALAVRAS O QUÃO HONRADO ESTOU EM FAZER PARTE DESSA CELEBRAÇÃO DOS 80 ANOS DA UBC. ESTAMOS FALANDO DE 80 ENCONTROS COM SERES HUMANOS INCRÍVEIS E DIVERSOS.”

Clemente Magalhães, do podcast Papo Com Clê
Dona Onete
foto_ Akira Takatsuji

Aspas JÁ NÃO SOMOS SÓ FOLCLORE. CHEGOU A HORA DO BREGA, DO CARIMBÓ, DA GUITARRADA, DO QUE É NOSSO SER VALORIZADO. NINGUÉM MAIS VAI SEGURAR O PARÁ.”

Dona Onete

AspasFoi um prazer reunir renomados juristas, que abordaram temas tão relevantes ao direito autoral, com suporte na jurisprudência oferecida pelo STJ”

Karina Callai, co-organizadora da obra

Livro sobre direito autoral

Fechando as celebrações pelo aniversário, nossa associação lança agora em dezembro o livro "O Autor Existe - O direito autoral aplicado pelo STJ nos 80 anos da UBC”, jogando luz sobre uma história de oito décadas de lutas, vitórias e reconhecimento dos direitos dos autores brasileiros. Com organização e coordenação de Sydney Sanches e Karina Callai, a obra traz, no decorrer de suas 240 páginas, uma reunião de mais de 10 artigos de algumas das maiores autoridades brasileiras no campo dos direitos autorais. Entre elas, destacam-se colaborações in memoriam de Fernando Brant, compositor, ex-presidente da UBC e figura central na defesa dos direitos dos autores no Brasil, e João Carlos Müller Chaves, advogado e Secretário Geral por cerca de 20 anos da FLAPF-Federação Latino Americana do Produtores Fonográficos.

“A proposta do livro é destacar os avanços da jurisprudência do STJ desde o início de vigência da Lei de Direitos Autorais (1998), que vem sendo aplicada e interpretada à luz das intensas mudanças sociais e tecnológicas, demonstrando seu vigor e longevidade, o que denota a qualidade e força da norma autoral vigente”, afirma Sanches.

AspasFOI UM PRAZER REUNIR RENOMADOS JURISTAS, QUE ABORDARAM TEMAS TÃO RELEVANTES AO DIREITO AUTORAL, COM SUPORTE NA JURISPRUDÊNCIA OFERECIDA PELO STJ.”

Karina Callai, co-organizadora da obra

“Foi um prazer reunir renomados juristas, que abordaram temas tão relevantes ao direito autoral, com suporte na jurisprudência oferecida pelo STJ”, completa Callai.

O livro está disponível para venda no site da Litteris Editora e em livrarias em todo o país — e 100% do valor obtido serão revertidos para o Instituto Zeca Pagodinho, que oferece cursos de artes e profissionalizantes para centenas de crianças em Duque de Caxias (RJ).

Alceu Valença
foto_ divulgação
Alceu Valença
foto_ divulgação

ENCONTRO COM ALCEU,

AUGE DAS CELEBRAÇÕES

por_ Akemy Morimoto e Bruno Albertim de_ Rio

Na quarta-feira, 16 de novembro, Alceu Valença já tinha ido dormir emocionado depois de trocar abraços com Milton Nascimento, o mineiro que reuniu amigos de longa data, Caetano Veloso entre eles, para comemorar seus 80 anos numa festa no Rio. Na noite seguinte, o pernambucano estaria em Porto Alegre para um show na PUC-RS em que receberia a medalha do Mérito Cultural. Desceu do palco não com um, mas com dois prêmios, já que, na distante Las Vegas (EUA), o seu “Senhora Estrada” faturou o Grammy Latino de melhor álbum de música de raiz em português.

Mas a maré de celebração e prêmios não começava ali. Dias antes, na Casa UBC, no Rio, ele recebia o Prêmio do Compositor Brasileiro 2022, mais conhecido como Prêmio UBC, pelo conjunto da sua vasta obra. Veteranos como Saulo e Ney Matogrosso se uniram a Marina Sena, Duda Beat, Silva, Juliana Linhares, Almério, Martins e os cariocas da banda Bala Desejo - estes últimos também ganhadores de um Grammy Latino este ano - para reler temas do repertório valenciano. “Alceu Valença é sempre o rio caudaloso em que a gente bebe a música deste país”, dizia Almério.

A metáfora fluvial não foi gratuita. Como também lembrou durante a festa, Almério é de Altinho, cidade pernambucana às margens do Rio Una, mesmo curso de água que corta São Bento do Una, onde, em julho de 1946, nascia Alceu.

“Eu engoli a água do Una todinha pra cantar pro senhor”, Almério ainda fez graça.

Vários outros dos talentos que passaram pelo palco naquela noite também se emocionaram.

“Eu sou muito sua fã! É uma honra cantar aqui na sua frente. Você abriu portas para mim e para tantos outros compositores pernambucanos. É o nosso mestre. Obrigada, UBC!”, vibrou Duda Beat.

A exibição de um cordel em vídeo, com a história de Alceu, já havia arrancado lágrimas do homenageado logo no início de uma festa que contou com figuras importantes do mercado. Entre eles, Fernando Lobo, diretor de supervisão e produção musical da Globo; Aloysio Reis, presidente da Sony Music Publishing Brasil; Marcel Klemm, diretor geral da editora Warner Chappell; Marcelo Falcão, presidente da Universal Music Publishing Brasil e também diretor da UBC; Isabel Amorim, superintendente do Ecad, bem como os compositores e diretores da UBC Paulo Sérgio Valle (diretor presidente), Antonio Cicero, Geraldo Vianna, Manno Goes e Paula Lima.

Eles e todos os outros presentes aplaudiram o premiado de pé, quando ele lembrou, ao receber o troféu - e antes de cantar com os convidados -, a razão de ser do prêmio e da nossa associação:

“Estamos todos juntos na UBC. Precisamos sempre ver os direitos que nós, artistas, compositores, temos. Todos unidos, porque a causa é nossa. Viva todos aqueles que fazem parte da UBC, os dirigentes e também nós, que somos associados.”

Lançado pela Deck Discos, “Senhora da Estrada” é um dos três álbuns que Alceu, confinado em seu apartamento no bairro carioca do Leblon durante os momentos mais agudos da pandemia do Covid-19, produziu para atualizar, na cadência do próprio violão, as referências urdidas nos agrestes e sertões do Nordeste do Brasil.

Confirmando a força de Gonzagão em seu DNA musical, Alceu traz no repertório, por exemplo, de versões personalíssimas de “Pau de Arara” e “Sala de Reboco” a clássicos valencianos como “Pelas Ruas que Andei” e “Coração Bobo”. “Receber este Grammy por um disco de violão, no qual revisito parte do meu repertório com sabor acústico e timbres intimistas, é um reconhecimento que me deixa, no mínimo, muito honrado", diz Alceu, lembrando como o projeto dos discos surgiu de maneira totalmente despretensiosa e até inesperada. “Minha mulher (e também empresária), Yanê, me viu tocando violão na sala de casa e percebeu que aquilo ficaria bom em disco. Insistiu para que eu gravasse.”

Botão hover
Alceu Valença e convidados
foto_ Miguel Sá
Next
Next