Com bilhões de visualizações e participações de Caetano, Emicida, Milton e Ivete, série de animações musicadas para crianças ajuda a renovar público
por_ Alessandro Soler • de_ MadriHá variadíssimos e bem-vindos projetos de renovação de público musical espalhados por escolas, comunidades e pela internet brasileira, com maior ou menor alcance. E há esse fenômeno chamado Mundo Bita. Com mais de 9,6 milhões de inscritos e coisa de 8,3 bilhões de visualizações só dos seus vídeos em português brasileiro no YouTube (além de outras dezenas de milhões em português europeu e em espanhol), a série de animações musicadas nascida há pouco mais de uma década no Recife por iniciativa do músico e designer Chaps Melo renova sua aposta nas canções de qualidade, apresentando recentemente parcerias com Caetano Veloso e Emicida, depois de vídeos de enorme sucesso com Ivete Sangalo, Milton Nascimento, Nando Reis ou Alceu Valença.
"O Bita pega pelo coração. Muitas vezes, os artistas escutam, então têm relação afetiva. Foi o caso do Nando Reis, que acompanha o projeto com a neta, Gal; e da Ivete, com as filhas (Helena e Marina)", descreve Chaps Melo. Com Emicida foi diferente. Apresentando uma canção autoral inédita, e não um hit do seu cancioneiro, ele não entrou na Rádio Bita, mas sim no guarda-chuva geral do Mundo Bita. "Ele escreveu, e a gente gravou junto. Normalmente sou eu quem escreve em participações assim. Mas, como é praia do rap, ele tem muitíssimos mais estrutura e conhecimento. O Emicida também é uma pessoa que já consumia o conteúdo do Mundo Bita. Vimos um Story dele cantando com a filha. A gente escreveu, e começou o namoro."
Desde o início, o Bita se propõe a mostrar às crianças o mundo dos animais, o corpo humano, as emoções e os sentimentos ou, simplesmente, universos coloridos e cheios de estímulos visuais e sonoros em cenários como a natureza e o circo. Nos últimos anos, surgiu a Rádio Bita, um projeto especialmente caro a Chaps, interessado em mostrar aos pequenos músicas dos seus compositores favoritos, e que os ajudem a entender a rica variedade artística brasileira. A participação de Caetano, publicada no início de fevereiro — com mais de 9,3 milhões de views quando este texto foi escrito —, é uma homenagem ao artista que celebra seus 80 anos em agosto, mas começou a ser gestada bem antes.
"Já havíamos tentado uma aproximação com o Caetano depois da primeira parceria com o Milton Nascimento, há quatro anos (na música composta por Chaps "Trem das Estações", 239 milhões de views). O filho dele, Augusto, falou com a Paula (Lavigne, esposa e produtora de Caetano) sobre essa relação, que a galera do Bita é massa e o trabalho é legal. Agora, se deu a feliz coincidência de que a família tem consumido o Bita com o Benjamim (filho de Tom Veloso, neto de Paula e Caetano). Paula se lembrou da gente e entrou em contato", conta Chaps.
Se deu a coincidência de que a família tem consumido o Bita com o Benjamim (neto de Caetano).”
Chaps MeloComo em outras animações da Rádio Bita, a música escolhida é um hit do artista participante. "Leãozinho" já era uma obsessão da turma do Bita. "Tínhamos pedido autorização à editora várias vezes antes, sem resposta. Parece que queriam deixá-la para um grande momento. Tinha que ter a participação do Caetano", brinca Felipe Almeida, diretor de negócios da Mr. Plot, a produtora responsável pelo Bita.
Felipe é o responsável pelo contato com editoras, compositores e outros titulares para obter licenças e autorizações. Também elabora os contratos.
"Em alguns casos, quando se trata de canções nossas, há o pagamento de cachê ao artista participante e, um percentual sobre as receitas. No caso das participações da Rádio Bita, pagamos a licença às editoras. E em todos os casos estão os direitos conexos que os artistas recebem como intérpretes, além da execução pública com a veiculação no YouTube ou em outros meios", explica, lembrando que em alguns casos, como a da canção "Aquarela", versão brasileira de Vinicius de Moraes e Toquinho para a italiana "Acquarello", foi preciso entrar em contato também com a editora de lá e os representantes dos autores originais, Guido Morra e Maurizio Fabrizio, o Mushi.
A lista de eventuais próximas colaborações é grande. "Gosto da ideia de trazer esses supermedalhões, os orixás da música brasileira. Tenho sonho de Gilberto Gil, Gal Costa e Rita Lee, por exemplo. As canções deles me ajudaram a fazer o Mundo Bita e têm muita influência na minha vida", conta Chaps, que não descarta sair do universo digital e, numa pegada nostálgica, reunir as colaborações da Rádio Bita num álbum de vinil — ou numa série deles. "Tipo aqueles discos coloridos que a gente ouvia quando criança. Ou fazer uma compilação com todas as participações. Se trata de canções maravilhosas, que merecem ser escutadas sempre e mostradas às crianças." •