Chico Buarque anunciou em junho uma nova turnê que estreará em setembro, em João Pessoa, percorrerá outras 10 cidades e terminará em São Paulo, em março do ano que vem. No mesmo dia, lançou o single que dá nome à série de shows: “Que Tal um Samba?”. Em grande forma, ele assina a composição em parceria com Hamilton de Holanda, que também toca magistralmente o violão deste samba com pegada de choro e citações até à rumba e à salsa — e cuja letra transita entre a fina ironia, a ternura esperançosa e a crítica direta aos tempos duros, violentos e meio dementes que vivemos.
Depois do lançamento do álbum que celebra a amizade de Alceu Valença com Paulo Rafael – que, além de 11 faixas, traz uma bela capa talhada em madeira pelo xilogravurista J. Borges –, um filme chega para a alegria dos fãs dos dois pernambucanos. “Sem Pensar no Amanhã” é uma produção da Pipoca.Co disponível em plataforma própria para acesso por demanda, desde o dia 15 de julho, por R$ 12. Dirigido por Marcos Credie, o documentário flagra momentos íntimos de Alceu em casa, durante a pandemia, e no estúdio da Deck Disc, onde registrou, sob produção de Rafael Ramos, uma quantidade enorme de canções, lançadas em três álbuns em 2021. Nos trechos filmados em estúdio, o guitarrista Paulo Rafael dá depoimentos que emocionam os que sentiram a sua perda, em agosto do ano passado. “Ele me documentou com Paulinho, me filmou gravando, caminhando pelo pátio. Documentou o que eu nem lembrava. Captou com sensibilidade o processo de gravação dos álbuns, naquele momento tão difícil”, declarou Alceu na pré-estreia, realizada no fim de maio, na Gávea, RJ.
Influenciado pelo movimento Manguebeat, Gustavo Macacko lança o álbum “Antenas Ancestrais”. Quarto disco do cantor e compositor, o trabalho reúne seis faixas que misturam rock, batidas eletrônicas e música popular brasileira, todas produzidas por Marcel Dadalto. Tirando "Meu Santo Antônio (Congada Beats)", canção de domínio público, as faixas são autorais. "O Mar de Onde eu Vim" é uma parceria com a poeta Elisa Lucinda. “As Dores do Mundo” ganhou feat de Chandramukha Swami e chega à cena com clipe gravado no templo Hare Krishna, em Teresópolis (RJ), e no Mosteiro Zen Budista, em Ibiraçu (ES). “A poética desse álbum é inspirada pelos cantadores nordestinos da beira do mar. Essa mistura vem pra me ressignificar e acessar novas possibilidades estéticas sem perder minha essência. Ligar as antenas na potência dos nossos ancestrais. Entendo que honrar nosso passado é uma percepção importante pra nossa evolução”, diz Macacko.
Memórias, ilustrações, uma apresentação da poeta Alice Ruiz e uma resenha de quarta capa assinada pela cantora Fernanda Takai. Tudo isso está em “Benditas Coisas Que Eu Não Sei", livro que Zélia Duncan está lançando pela Editora Agir. A cantora e compositora relembra sua primeira vez num palco, celebra suas referências musicais e conta histórias alegres e comoventes. “Não saberia dizer como descobri a música no mundo”, diz Zélia em um dos trechos. “Ela simplesmente sempre esteve ali. A cada dia que eu crescia um pouco, ela crescia comigo. Quando me dei conta, não podia viver sem ela e, mais que isso, queria viver dela. A mais sorrateira e portátil das artes nos acompanha e vai deixando sua marca indelével por todas as fases, todos os sentimentos e silêncios do nosso tempo por aqui.”
Das dez faixas do novo álbum do Outros Bárbaros, nove são de autoria de Mauricio Peixoto. O guitarrista e sua banda jogaram nas plataformas “Interlúdio na Beira do Caos”, misturando rock com referências da MPB. Oriundos de Santa Catrina, os músicos chegam ao segundo título de sua discografia se esforçando para manter a banda de pé em um momento complicado pós-pandemia. “Fazer arte nesses tempos malucos é amor, resistência e perseverança… e um pouco de falta de noção também. Mas estamos aí, jogando de volta pro mundo o que ele traz pra gente”, diz Mauricio.
Hamilton de Holanda e Diogo Nogueira, juntos, não chegam a ser novidade: em 2016, eles já apresentaram juntos o show/disco “Bossa Negra”, cuja alta qualidade lhes rendeu o Grammy Latino de melhor canção brasileira. Novo mesmo é eles se juntarem a Seu Jorge e Marcos Portinari num single, “Fim do Horizonte”, recém-lançado nas plataformas digitais pela Biscoito Fino. Composta durante a turnê europeia de “Bossa Negra” e inspirada pelo jongo, a música traz Nogueira (voz) e Hamilton de Holanda (bandolim e voz) acompanhados por André Vasconcellos (contrabaixo), Rafael dos Anjos (violão) e Thiago da Serrinha (percussão). O clipe, dirigido por Nando Chagas e Marcos Portinari, evoca, em belas imagens em preto e branco, o universo natural que a letra sobre a cultura afro homenageia.
Prestes a completar 80 anos de idade e 60 de carreira, Milton Nascimento já está em plena turnê de despedida da estrada. “Passa rápido demais o tempo, né? Eu não boto aqui que vou fazer 80 anos. Eu acho que tem um menino sempre dentro de mim", ele disse à jornalista Maju Coutinho, em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo. Sua série de shows “Última Sessão de Música”, que estreou em junho no Rio e já foi a Portugal, Inglaterra e Itália, volta ao Rio e a São Paulo em agosto, antes de seguir para os Estados Unidos e terminar em novembro, em Belo Horizonte. “Eu jamais poderia encerrar essa parte da minha vida de tantos anos na estrada sem homenagear aqueles que me acompanham esse tempo todo: os fãs. E essa turnê foi pensada especialmente pra vocês”, disse Bituca, 43 discos gravados, cinco Grammys e o título de Doutor Honoris Causa em música pelo Berklee College of Music, de Boston (EUA).
Depois de lançar como intérprete o EP “A Voz de Alguém", a cantora e compositora joga no YouTube o making of das gravações do trabalho que reuniu canções de Cetano Veloso (“Alguém Cantando”), Djavan (“Água”) e Luiz Galvão e Moraes Moreira (“A Menina Dança”). Além de trechos das gravações, o filme traz depoimentos da artista, que reconhece que mudou sua forma de cantar compositores masculinos: “Desde muito cedo estou habituada a cantar compositores homens. Eu decidi continuar esse processo, mas ressignificando as letras, tendo um olhar diferente: uma ótica mais feminina”, diz ela, fazendo uma autoanálise da própria evolução.
Conforto, abraço, doçura permeiam o novo single da cantora e compositora Tuany. Uma balada indie rock produzida pela própria artista, “Jabuticaba”, aborda essas sensações em meio ao caos do mundo. “A sonoridade dela é bem solta e fluida, para hipnotizar quem está ouvindo. A harmonia é bem sensível e reconfortante, não tem nada eufórico acontecendo ali, justamente para dar a sensação de conforto a quem escuta, de forma cíclica”, conta Tuany, que teve como referência Lana Del Rey, Chico Buarque e os Beatles. O clipe foi inspirado em uma imagem bucólica e também traz elementos urbanos. Com direção de Camila Sánchez, o vídeo foi gravado em uma chácara próxima a Santo André (SP), onde Tuany mora, e inspira a sensação de paz e silêncio em meio a um mundo crescentemente ruidoso.
No ano em que se torna um octogenário, Gilberto Gil está com a agenda cheia de shows e de lançamentos. Depois de se tornar imortal da Academia Brasileira de Letras, ele tem o seu acervo de fotos, vídeos e áudios reunidos em um museu virtual no Google Arts & Culture. As mais de 40 mil imagens e conteúdos que formam 140 exposições dão a esse projeto uma dimensão inédita no mundo. Há entrevistas com nomes que vão de Caetano Veloso a Lula, passando por Carlinhos Brown, Gal Costa, Maria Bethânia e muitos outros. Durante o mergulho nos arquivos de Gil, os curadores e pesquisadores Chris Fuscaldo e Ricardo Schott encontraram uma fita com um álbum em inglês gravado em 1982, com participacão de Roberta Flack e produção de Ralph McDonald, e cancelado por Gil à época. Há ainda uma discobiografia dividida em seis partes e exposições sobre canções, trilhas sonoras de novelas etc.
O crítico musical Mauro Ferreira lança o livro “Cantadas: Ensaios Sobre 35 Grandes Vozes de Mulheres da Música Brasileira” (Garota FM Books), perfilando cantoras e compositoras que fizeram parte de sua trajetória de 35 anos no jornalismo. Estão no livro de Adriana Calcanhotto a Zélia Duncan, passando por Margareth Menezes, Anitta e tantas outras artistas que fizeram a cabeça de Mauro. “Sempre fui identificado com as cantoras no jornalismo musical. O livro ‘Cantadas’ é a celebração da arte e das vozes dessas 35 cantoras que provocam essas paixões e geram discussões entre o público do Brasil. É uma celebração que se estende a muitas outras cantoras nacionais que, por questão de espaço ou de critério, ficaram fora do livro, mas são importantes na música do Brasil e na minha vida profissional”, ressalta Mauro Ferreira.